pérolas
"adquiri, nos últimos tempos, esse hábito estranho de colocar brincos para dormir. Aliás, todo um ritual embelezamento antes de apagar a luz. ( a luz apagou-se ) creme no corpo, depois de um duche, perfume e os brincos. convenci-me de que é mais fácil enfrentar o escuro, nessa ilusão confortável de alguma agradável aparência. para que a noite se apiede. para que os sonhos sejam mais brandos e mais alheios a mim. fingir que sou bonita para mim.
os brincos a partilhar a cama comigo. (a luz apagou-se) um ritual de preparação para a vida a fingir que experimento, quando me deito, na minha cama. devidamente alinhada e arrumada. quatro almofadas para uma só cabeça. a noite é um reino solitário, onde fazemos a revista dos momentos dos dias. onde os vivemos repetidamente numa espiral de silêncio. a noite, os brincos para dormir, quatro almofadas para uma cabeça... um caleidoscópio de cicatrizes.
(a luz apagou-se) um caleidoscópio de cicatrizes em braille, com tacto privilegiado para o que podia ter sido. para o que gostavamos que pudesse ter sido. na imprevisibilidade do que desejamos que possa ser. de brincos postos. nunca sabemos quando a luz volta."
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