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this raging light

Naturalmente vamos ficar parados a olhar um para o outro. Naquela vergonha de não saber onde pôr as mãos. De não saber o que podemos dizer. De não saber se a minha perna pode tocar a tua. Debaixo da mesa. Clandestinos da nossa vontade. Ou a nossa vontade clandestina. Vamos tentar ser cordiais. Tu vais dizer que eu estou bonita. Fica bem. Mas vamos estar à procura de vestígios dos traços que o nosso rosto já teve. E depois vamos contar, a medo, uma história daquelas... ... lembras-te de quando…? Vamo-nos lembrar de tudo, sim. Em alguns momentos, palavra por palavra. É essa a doçura das memórias. Da memória. Esse palco de mundo onde por mais que nos afastemos, mais nos cruzamos. Há demasiados caminhos na vida para não nos vermos outra vez.

my dear sweet nothing

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Savannah scatters and the seabird sings So why should we fear what travel brings? What were we hoping to get out of this Some kind of momentary bliss I waited for something, and something died So I waited for nothing, and nothing arrived It's our dearest ally, it's our closest friend It's our darkest blackout, it's our final end My dear sweet nothing, let's start anew From here on in it's just me and you I waited for something, and something died So I waited for nothing, and nothing arrived Well, I guess it's over I guess it's begun It's a loser's table, but we've already won It's a funny battle, it's a constant game I guess I was busy when nothing came

worry walks beside me

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Gostava que não estivesses lá estado. Que me tivesses deixado no momento em que decidiste não vir comigo. Que não gritasse o teu nome cada pedra. E que aquele pedaço de terra à deriva não tivesse sido feito para ti. Para que não me lembrasse desse tão morto tu de cada vez que olhei em volta. Podia um sítio gritar mais por ti? Um nevoeiro cravado da pele ao coração, como se carregasse para todo o lado o que morreu de ti em nós.  Há qualquer coisa de errado na esperança. Talvez a esperança em si mesma. Não a esperança de encontrar-te como dantes. Mas a esperança de que seria possível ver o mundo como o via antes de o ver pelos teus olhos.  Quem me dera que não estivesses lá estado. 

Ain't no mountain

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Um dia chegou lá a casa com a letra da música numa folha. Há muitos anos. Era o tempo em que a internet chegava devagarinho. E em que ele nos trazia tudo o que de novo encontrava. Esse era um dos muitos hábitos que aprendemos com ele. Escutar as letras das músicas. Chegou nesse fim-de-semana com a letra de uma música. A música fazia parte da banda sonora de um filme que tinha visto. Coreografia da Susan Sarandon. Escovas do cabelo no papel de microfones. Aprendemos toda a performance na sala de jantar da casa da “nossa mãe”. Essa música acabou por ficar connosco. Quando a Ana foi diagnosticada e, depois, quando foi estudar para longe. Cantamo-la à Lela, quando se casou. Fazia parte da playlist que ia tocar no meu casamento que acabou por não acontecer, O que primeiro foi uma forma de celebrarmos o estarmos juntos, tornou-se uma forma de manter as memórias e de afirmar um estado de saudade. Nunca mais fui capaz de ver aquele filme, mas não há montanha alta o suficiente

Yellow Light

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Do princípio. Invariavelmente voltamos ao início. Já arrumamos as peças deste puzzle vezes sem conta. Para a caixa outra vez. Perdemos algumas peças pelo caminho. Já nem todas encaixam. Mas começamos do princípio. Sempre do princípio e invariavelmente do princípio. Mesmo quando já não sabemos bem onde este ciclo se fecha. O princípio está só um passo atrás do fim. E esquecem-se. Esquecem-se que para seguirmos em frente temos que voltar ao princípio. O caminho não pode ser feito com a casa às costas. Por isso voltamos ao princípio. Vezes sem conta. Para revisitar as memórias que deixamos nesse invariável armário. Sermos a estação zero de nós próprios. Apagar de nós o que não somos. Do princípio.  Do fecho do ciclo. Ter que chegar a um para aceder ao outro. De mim. Invariavelmente do meu início. Do meu ciclo. Que se fecha O princípio está só um passo à frente do fim.

Fall at your feet

The finger of blame has turned upon itself And I'm more than willing to offer myself Do you want my presence or need my help? Who knows where that might lead I fall rodava a chave e pensava "hoje é a última vez". todas as noites pensava isso.  e, depois, março chegou.  havia qualquer coisa dele em março que ela gostava de guardar. um arrepio de despedida, se calhar. março tinha qualquer coisa de homem. de todos homens que lhe tinham passado na pele. e era nisso que pensava, enquanto olhava para o tecto do quarto. havia muitos marços na cama onde estava deitada. uma leve queda no sono e voltava àquelas escadas. a recriação cinematográfica dos reencontros que os sonhos nos agendam. a hesitação em subir o degrau, o voltar para trás e cair-lhe dramaticamente nos braços. aos pés. a arqueologia de todos os despojos. a arqueologia de todas aquelas noites onde, de mãos atadas, não soube fugir.  hoje era a última noite. a primeira de março. 

Goodbye Tomorrow

Dias de chuva trazem um som de anonimato ao ambiente. Guarda-chuvas-bolha, casulos de introspecção. E somos uma ilha. Chuvosa e pesarosa. Tão quieta na corrente, arrastada na mobilidade de uma imensidão de mar. Terá sido por isso que o olá que trocamos tivesse sido tão vazio. Eu sem certeza de que tenha sido um olá. Uma vergonha partilhada. Um não sei que te diga. Um quem me dera não estar aqui tanto quanto quero aqui estar. Será que eu sou sorri? Terá o som da minha voz ficado agarrado à garganta? Olá. Dois estranhos de guarda-chuva. Os dois estranhos mais íntimos que o mundo já tenha conhecido. A intimidade sabida de cor que agora nada mais é que uma rua de acasos. Gabardina solitária num caminho que percorremos vezes sem conta. Quantas vezes quis que aquelas escadinhas tivessem sido engolidas pelos prédios.Só para prolongar a manhã na minha mão presa à tua. Eu sei que me viste. Talvez tivesses desejado que o meu guarda-chuva fosse hoje outro. E que os dias te tivessem feito esq