Bilhete para o fim do dia

31 de março de 2010

Porque nunca sabemos a que horas a vida volta. São muitos os bancos vazios no comboio, ao seu lado apenas a mala, o casaco e o guarda-chuva. Dia mau nos olhos. Nem sempre esperamos pela nossa vida; às vezes pela dos que se cruzam connosco quando procuram um banco que não esteja vazio, na trepidação do comboio pelos carris que levam não sei onde. A passagem da janela vai acendendo as luzes, anunciando a noite.



Bom dia, Cansaço.



E o vocativo voa nos círculos da expansão até que bata em nada. Espero também pela vida dela. Pobre, como o dia conspirou para que o crepúsculo fosse um comboio para a noite... Com bancos vazios. Não há vocativos de ternura, não agora. Tropeçou neles e caiu. Só a mala, o casaco e o guarda-chuva. Braga é uma cidade horrível para quem não gosta de chuva. E de esperar pela vida. Se calhar não mora lá e está, como eu, de passagem. Há dias que nos cansam. E jamais acabam, ainda que vivamos milhões deles depois.

Não há, neste comboio, bancos que não estejam vazios, mas ela remexe na mala a tralha que para nada serve e continua à procura. E o comboio continua, à sua passagem, a acender o luzeiro da noite.

Ainda me falta uma hora de viagem. E ela continua à procura, não sabe de quê, por isso é que continua à procura.







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