Ficaram os dedos (II)

Tentei vender meio ano. Numa caixinha azul.  Ninguém o quis comprar. Talvez porque não apenas meio ano, mas uma vida de expetativas e investimentos. Uma vida para ser. Uma vida demais para alguém querer. Tentei livrar-me de meio ano espartilhado e encerrado. Cortado a lâmina afiada. Tentei vender meio ano há meio ano. Este ano teve meio ano a mais. E não sei, ao certo, a que metade me refiro.
Não vou partilhar balanços ou ano em revista. Não mereço convocar fantasmas. Exorcismos, só no silêncio das palavras que não digo, mas que penso. Como se uma luz - não a perfeita, mas a refracionada nos cristais do meio ano que tentei vender- estabelecesse uma diálogo mudo de encerramento lúgubre. Canto do cisne. Caixa de pandora lacrada.
Algoritmos errados a calcular um pretérito (im)perfeito.

Ficaram os dedos. Morramos de otimismo. À procura da luz perfeita.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Nota de domingo

Bilhete para o fim do dia

Tragédia de Amor em Três Pedacinhos de Acto (I)