Chaga

A pensar nisto desde outro dia. Uma ironia requintada. Uma estupidez de comodismo. Um conforto que se força numa mentira situada. Uma vida,  uma música decomposta. Declinada. Até se deitar por terra e não ter mais barreiras que impeçam de ser reinterpretada até à exaustão. Até ao aborrecimento.
À procura de um papel na agenda.  Um papel sem importância. Um papelinho de nada. Já não me lembro de que era o papel. Ou para que servia o papel.  Eu, na minha secretária,  à procura de um papel na agenda. E a abrir na primeira página,  nos dados (im)pessoais. Os códigos que me deram para que,  quando me olhasse ao espelho, o mundo me pudesse dizer quem sou.
Como todas as vezes que a morte passa por nós, um arrepio de calor. Um mal-estar na própria pele.  O contacto de emergência.  Um nome e um número de telefone.  E uma dor visceral.  Na agenda do próximo ano, um espaço em branco. Um vazio sem nome. Eu, por mim. A curar sozinha as feridas.  Sem contacto de emergência.

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