Memórias de um Olhar
11 de fevereiro de 2007
Olho-te, então, contra a perspectiva do efémero. Contra a corrente
que te arrasta pela eternidade para bem longe. Olho-te como se
tudo acabasse agora e te continuasse a olhar na perpétua luz que
nos afaga. Olho-te como se o efémero nada importasse, como se o
breve instante em que me tocas durasse até a um outro, mesmo que
entre eles se instalem vidas, milénios, angústias e crepúsculos.
Olho-te, então, contra a perspectiva do efémero porque sei que
não partes, que não podes partir, que não sabes partir. Olho-te
na perspectiva de um ininterrupto amor que, também, não sabemos definir.
E, apesar de não o sabermos definir, sabemos vivê-lo: no veemente olhar
que nos leva para outra dimensão, no toque que arrepia, no beijo que se cala,
no silêncio que grita “Amo-te”, nas mãos que não entrelaçamos, mas
que balouçam lado a lado, companheiras do efémero para sempre.
Olho-te como se o mundo e a eternidade coubessem nos teus olhos.
Porque quando te olho são, realmente, só os teus olhos que vejo. E neles,
não o espelho da tua, mas da minha alma.
E é o saber que vivendo em ti, vives em mim que torna
o efémero irreal. Como se, de facto, a morte não
fosse capaz de manipular as nossas vidas, nem o tempo fosse capaz
de aplacar as tempestades que nos amarram um ao outro, nem o próprio
Amor fosse capaz de nos ludibriar com falsos vislumbres de felicidade.
Olho-te, então, contra a perspectiva do efémero,
porque sei que não há longe nem distância,
porque sei que o tempo é um adereço,
porque sei que a morte é um embuste;
porque sei que quando te olho a eternidade pára.
E somos só eu, tu e os nossos olhos.
(de um eu de há muito tempo)
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