Flutuo

Como se voltar lá fosse voltar no tempo. Fechar os olhos, cerrar os punhos e recuar no teu tempo do coração.  Arrancar-to para que não arrancasses o meu.
Despir as paredes é vesti-las vezes sem conta. Reviver o que se prosta entre as falhas dos chão,  a escorrer para o andar de baixo e daí para o mundo.  Como se alguma vez eu tivesse querido dar ao mundo o que eu tinha de mais precio... como se...
Como se voltar lá fosse tatuar todo o corpo  com ferros em brasa. Ferros em brasa, as promessas e a alma um  mapa de cicatrizes. Talvez não um mapa, mas um calendário da tua ausência. Um diário de bordo da sobrevivência ao dia em que escorreste pelas paredes para o andar de baixo e te deste ao mundo. O mundo imenso em tudo e eu nada.
Como se voltar lá fosse dormir todas as noites na esperança de me derramar para o mundo também.  E o mundo sem me querer.

Flutuo.

Fechei a porta à chave e vim embora. Mas não sei como sair de lá.  As paredes vazias num funeral sem morto. E sem vivos.  A riscar os dias que passa no calendário da tua ausência.

Comentários

  1. Marta, não sabia que escrevias (e ainda por cima tão bem). Daqui para a frente serás descaradamente seguida por mim. Beijinhos

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  2. Ohhhh :) Muito obrigada!! E muitas saudades também!!!!

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