a noite
Dói-me o mundo. Por dentro, onde
não há remédio que chegue. Por onde a noite é tão negra que nem os passos da
tua luz me acordam. E um sono leve nesta escuridão pulsada e ferida. Um
cinzeiro dos sonhos que fumamos, apagados um a um na ausência da esperança.
Neste tanto amar que faz o mundo doer. Só fumo neste quadrado de laje partida,
a voar pela janela que, por não existir, não podemos abrir. Não há paredes, mas
também não vemos portas para abrir. Ou pontes para derrubar e justificar esta
solidão acarinhada. Dói-me o meu pé no mundo. Mas preso à pegajosa lama das
emoções, tão mal tratada, atirada das casas para as ruas perdidas das pessoas
achadas. Dói-me os olhos de dormir com eles abertos. A fugacidade da luz
enquanto durmo e esta doença de escuridão cravada na retina. Dói-me a alma de a
ter perdido nesta consciência de ser. Queimei tudo para que o fumo purificasse
esta falta de paredes. As janelas e as portas fechadas, na imposição de uma
não-existência.
Queria derrubar o mundo, mas ele
dói-me tanto.
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