para não ler
Escrever no vazio. Ou tentar tornar
vazio e geral o que de tão particular e cheio temos vergonha de ser. A vergonha
será o último reduto da nossa preservação. Um medo de ficar sem chão ou de
ganhar asas. Eu tenho vertigens.
Mas se usar uma verdade tirada do
mundo dos outros e a estilizar no meio do meu discurso, ninguém dará por ela e
eu estarei a torcer para que dê. Para que identifique aquela mensagem que o
último reduto da minha preservação não me deixa dizer. A vergonha do medo ou o
medo da vergonha. E ser racional nesta emoção de escrita. Um demónio danado nos
meus dedos vestido de branco. Escrever de forma racional é programar uma
emoção. A castração do sentido que mais ninguém vê. Aos pouco, os restos de um
pequeno dedal de sol e a insipidez das palavras vazias. Desabafos ocos. Não
vazios, ocos. Tudo o sobra de tentar tornar vazio e geral o que de tão
particular e cheio temos vergonha de ser.
Uma falta de cor neste quadro. Ou
um daltonismo circunstancial do saber olhar. A preservação não será mais do que
uma sobrevivência. E eu tenho vertigens. Mas um medo de ficar sem chão ou de
ganhar asas. E o ridículo de um desabafo oco (vazio) que eu espero que alguém saiba
preencher.
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