Nas costas do teu entardecer

Uma grande sombra debaixo de uma árvore. E és tu num banquinho de madeira a tentar montar o puzzle, mesmo sem saber se já tens as peças todas. Podia ser uma savana ao entardecer, aquele que não chegou a sair da caixa. Mais de mil peças. A vida em pedaços à espera que tenhas a destreza de a construir da forma mais certa.

(uma pausa para as mensagens subliminares. Será que deixam de o ser? Ah que vida esta em que tudo tem que ser subliminar para ser transmitido! No dia em que encontrar a última peça, deixo-me disto)

Eu não percebo a imagem e tu não viste o modelo. Estás a fazer um puzzle às cegas. Há tantas peças parecidas que nunca sabes se a nuance do pôr-do-sol está no encaixe mais acertado. E basta errar uma para que a paisagem se esfume. É difícil ser artista, mesmo quando já não há nada a criar.

E esse banco sem almofada. Sem companhia. Viver é uma actividade a solo. Sem solo.

Quando acabares, passa cola nos intervalos. Há sempre um viajante que, por diversão, gosta de atirar ao chão esse teu puzzle incerto. 

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