de ti

A esta hora, todas as noites são escuras. Como o sono que não chega. Pijama e lençóis remexidos nas voltas da solidão. A luz apagada até agora, mas um cansaço muito grande deste escuro, onde todos os sons mais intensos e os choros mais exteriores. 

Uma luta desmedida para não usar a primeira pessoa. É tão pesado esse uso repetido do eu. Todos os dias. Tantos dias. E sempre o mesmo eu para usar. Tivesse uma alma, no armário, para cada dia.

Uma maior tentativa de fuga do tu. Não de ti. De um tu a quem tenhamos que dirigir o olhar. De ti, não fujo, mas só porque impossível. É um diálogo tão fingido este do eu de todos os dias e do tu, correctíssimo, na polidez da roda do tempo.

Todos os dias cansa. Todas as noites. Sempre é tanto tempo. E ninguém tem a eternidade para a poder esperar.

O silêncio das palavras que o escuro abafa. Esconde. De ti.

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