É só um calendário, isso que, em cima da secretária, olha para ti. Como se o correr dos dias te sugasse os olhos e a sombra. É um caminho ténue, o do candeeiro projectado na secretária a guiar-te para os números dos dias, perfiladinhos naquele cartão branco. Parecem os marinheiros de uma camisola, no armário.

Pára.

Esses números olham-te, como se os dias tivessem olhos onde mais ninguém pode ver. Censura-cegueira essa a que impões ao mundo. É um calendário impiedoso, isso que, em cima da secretária, olha para ti.

Pára.

Pára.

Pára.

E é só um número. E os números são vazios, tu sabes. Uma objectividade condenada. Uma sentença sem mais. Um momento que parte. Uma pessoa que passa. É só uma estação de comboios vazia quando chegas.

Pára.

É só um dia, isso que, de longe, olhas no calendário. Só dói vinte e quatro horas de cada vez.

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