a casa

Cada dia como se fosse a primeira vez. Frio no fundo da barriga, pernas bambas, mesmo quando sentado. É um ser estranho este, o do afecto perdido. 

Espreita pela lente dessa grande óptica que lhe deram para espreitar os outros e sente o formigueiro do calor a entrar pela retina. Está vestido de cinzento, enrolado num cobertor, sentado num banco alto, à procura da luz perfeita para emoldurar. É uma triste casa esta, sem quadros.

E o afecto perdido vive uma permanente diáspora do tempo, viajando na lente, como se o banco um cavalo e o passado os moinhos de vento. E assim será até ao dia em que perceber que o pretérito é perfeito. Cristalizado  e, por isso, o melhor que podia ter sido.

Segue em frente, nesse teu manto-cobertor, porque a noite está gelada e cada dia em que espreitas pela lente é como se fosse a primeira vez. Hás-de sempre tropeçar de ternura, como o O’Neill.







Comentários

Mensagens populares deste blogue

Nota de domingo

Bilhete para o fim do dia

Tragédia de Amor em Três Pedacinhos de Acto (I)