Maçã
Onde a noite se cruza com a noite. Atrás daquele livro que se arrumou sozinho na prateleira. Aí está a chave que pode abrir a porta.
Os loucos não precisam de portas. Há arestas tácteis que abrem paredes na encruzilhada da noite. Digitais dedilhadas que são portas abertas. A incerteza é um bicho papão. Não se lembra do título. Alguém? Uma chave mestra? É um abismo essa incerteza. Alguém?
Impõe-se a falta da loucura. Não sabe dedilhar digitais em paredes, é duro de coração. Está onde a luz se apagou e onde o breve brilho do isqueiro não chega a ter tempo para se gastar num verão. Traz, no bolso, uma carta de outono, esboçada nesse flash de pedras. Está amarelecida pelas folhas (ou pelo tempo?). Um papel de árvore escrito a canivete.
Há uma árvore no topo das escadas daquela sala. Ele gostava que fossem maçãs a crescer, mas sem luz. Sem certeza. É a incerteza quem come as maçãs. Se calhar a árvore uma prateleira e lá, no canto do pó, a chave.
Nem a sorte de atear um fogo com o livro. Não se lembra do título. E onde a noite se cruza com a noite (que é onde me sento a observar os carros a passar na minha rua), dedilha uma mão com a outra.
Sair de si. Entregar a carta.
Silêncio. Paz.
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