Goodbye Tomorrow

Dias de chuva trazem um som de anonimato ao ambiente. Guarda-chuvas-bolha, casulos de introspecção. E somos uma ilha. Chuvosa e pesarosa. Tão quieta na corrente, arrastada na mobilidade de uma imensidão de mar. Terá sido por isso que o olá que trocamos tivesse sido tão vazio. Eu sem certeza de que tenha sido um olá. Uma vergonha partilhada. Um não sei que te diga. Um quem me dera não estar aqui tanto quanto quero aqui estar. Será que eu sou sorri? Terá o som da minha voz ficado agarrado à garganta? Olá.

Dois estranhos de guarda-chuva. Os dois estranhos mais íntimos que o mundo já tenha conhecido. A intimidade sabida de cor que agora nada mais é que uma rua de acasos. Gabardina solitária num caminho que percorremos vezes sem conta. Quantas vezes quis que aquelas escadinhas tivessem sido engolidas pelos prédios.Só para prolongar a manhã na minha mão presa à tua. Eu sei que me viste. Talvez tivesses desejado que o meu guarda-chuva fosse hoje outro. E que os dias te tivessem feito esquecer os meus dias de chuva. Um som de anonimato no ambiente dos estranhos que se cruzam. Casulos de introspecção. Cápsulas de segurança. Adiar um passo atrás do outro para que o meu caminho não encontre os teus passos. Olá.

E só isso. Como é possível nada mais restar para dizer? A ti, logo a ti. Se calhar por eu já nada mais ter para verter. Dei-te tudo o que alguém pode empenhar neste jogo de tabuleiro. E o ar que antes deixei de respirar para te dar, hoje era apenas o ar de um dia de chuva. Uma noite de silêncios no caminho para casa. E um guarda-chuva que não tropeçou em ninguém. Não sei porque não me viste. Terão os teus olhos mudados ou já não saberei eu ser a menina que inventaste em mim na primeira vez que choveu em nós? Ou são os meus olhos incapazes de deixar que entres? Um elefante numa loja de porcelanas. Olá.


Como se pudéssemos reduzir a um olá toda a cinza deste fogo. Como pode ser um estranho num dia de chuva quem já foi cama e mortalha? Água. De beber. Agora só chuva, a escorrer rua abaixo. E a lavar as memórias e as cicatrizes. Já quase não se nota que te conheci. Cada dia mais clara, essa marca. Só olá. O teu nome ficou perdido numa esquina desta rua. 

Eu sei que nos vimos. E que dissemos olá. E nunca um olá foi tão cheio de nada e os nossos olhos tão cheios de dúvidas. E as certezas tão vãs quanto a chuva. Sei que nunca mais nos encontraremos como hoje. E que em Braga não choverá. Nem mais uma gota. 

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